Ao elaborar uma pesquisa na Boca Maldita, contendo as perguntas “o preço do imóvel em Curitiba está caro?” e “O seu salário nos últimos anos aumentou?”, certamente observaremos a resposta “sim”. Estas duas perguntas, generalizadas para o Brasil e para os emergentes, teriam a mesma resposta: “sim”. Ambos, inflação dos imóveis e inflação dos salários, aumentaram; no entanto, o segundo cresceu bem menos que o primeiro, pelo oitavo ano consecutivo, em Curitiba, no Paraná, no Brasil e nos mercados emergentes (Brics).
Existem também algumas discussões
técnicas a respeito da inflação dos imóveis, da inflação dos salários, da taxa
de crescimento do crédito, do endividamento das famílias sobre a renda, da
rentabilidade do aluguel sobre o preço do ativo imobiliário, da inflação do
aluguel e inflação dos salários e taxas de lucros, do déficit habitacional com
a demanda efetiva keynesiana e dos custos da construção civil.
A teoria de bolha monetária versa
que o segundo estágio da bolha imobiliária inicia-se no instante em que o preço
médio fundamental da economia, medido por indicadores de preços básicos como o
IPCA, o IGPM e inflação dos salários, se descola levemente da taxa de inflação
imobiliária, sendo que esta cresce um pouco mais do que aqueles, e em linha com
a taxa de crescimento do crédito às famílias e empresas. Em termos
macroeconométricos, o segundo estágio ocorreu entre 2003 e 2007, e o terceiro
estágio da bolha imobiliária, de quatro possíveis no Brasil, começou em 2007 e
termina em 2013. O terceiro estágio da bolha imobiliária inicia, em termos
teóricos, quando existe um forte descolamento e em curto espaço de tempo entre
a inflação imobiliária e as inflações básicas, e entre a inflação imobiliária e
a inflação dos salários dos trabalhadores. A taxa de crescimento do aluguel é
maior que a taxa de crescimento dos salários; a taxa de crescimento do crédito
acompanha a taxa de crescimento dos preços dos imóveis; e a taxa de crescimento
do crédito é bem maior que a taxa de crescimento dos salários dos trabalhadores
e dos lucros das empresas – com este indicador provocando endividamento das
famílias e empresas.
Os testes de descolamentos entre
variáveis são facilmente visualizados com testes estatísticos de cointegração e
modelos de vetores autorregressivos com correção de erros, que levaram Clivel
Granger (2003) e Christopher Sims (2011) ao Prêmio Nobel de Economia. Pois bem,
pelos testes estatísticos nomeados em relação às variáveis de interesse, o
Brasil encontra-se, sim (e um “sim” bem enfático), em bolha imobiliária no fim
do estágio 3, quando entramos no paradigma de preços em 2012; e inicia o último
estágio da bolha no fim de 2013, o estágio 4.
Por que dizemos isso? Porque
atualmente não há relação de equilíbrio de longo prazo entre as variáveis
citadas, salvo crédito com inflação dos imóveis, e existem fortes sintomas do
início do estágio 4, que é o realinhamento dinâmico entre as variáveis de
interesse. O realinhamento pode ocorrer de modo rápido, dito estouro da bolha
imobiliária em colapso, em horizonte de até dois anos; ou com um ajuste lento e
gradual que pode durar entre dois e quatro anos. E, como não há relação de
equilíbrio estatístico das variáveis citadas, algumas dinâmicas podem ocorrer
nos próximos períodos: a taxa de crescimento dos salários será positiva,
próximo aos indicadores de inflação básicos da economia e bem maior que a taxa
de crescimento dos preços dos imóveis; a taxa de crescimento dos salários
deverá crescer em torno da inflação básica da economia e a taxa de crescimento
dos preços dos imóveis deve ser negativa (deflação); ou ambos: a inflação
salarial cresce e a inflação imobiliária cresce, com taxas próximas.
Pela rigidez salarial de curto
prazo, à la pós-keynesianos, salvo se a inflação básica disparar, os salários
nominais continuarão crescendo muito próximo à inflação básica. Atirem a
primeira pedra nesta frase, caso tenham dúvidas! E, se a taxa de crescimento do
crédito crescer mais que a taxa de crescimento dos salários e lucros das
empresas, haverá mais endividamento e comprometimento de rendas.
No cenário atual, em que a
maioria da população está empregada e com baixa produtividade do trabalho, com
pouca inovação e baixa tecnologia, portanto, a única trajetória possível dos
preços dos imóveis para que o setor retorne ao seu estado de equilíbrio entre
oferta e demanda, e ainda mantenha um exame de sangue “saudável” de negócios, é
a queda de preços dos imóveis em torno de 40% entre 2014 e 2017 na hipótese de
os salários e a inflação básica nesse mesmo período crescerem entre 5,5% e 7%
ao ano.
Benchmarks como os estouros das
bolhas dos EUA (2007), Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre entre 2009 e
2012, e indicadores de emergentes estão nesta linha de raciocínio. Fair play à
parte com confederação, sindicatos do setor da construção civil e consultores
contratados por estas instituições, precisamos que vocês entendam qual é a
definição de bolhas de qualquer natureza, para, então, publicar seus artigos
científicos ou relatórios técnicos em revistas e corpos editorias de consideração
de grande importância para o país e comentar se existe ou não bolha
imobiliária. Minha opinião: estamos em bolha imobiliária e escutem o que eu
comento com vocês. Quero preservar a economia do país e a população brasileira.
Luciano D’Agostini, economista, é
doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR, integrante do grupo de pesquisa
Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento (CNPq) e filiado à Associação
Keynesiana Brasileira (AKB).
Publicado em 10/04/2014 | LUCIANO
D’AGOSTINI
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários passam por um sistema de moderação, ou seja, eles são lidos por nós antes de serem publicados. Não serão aprovados os comentários:
- não relacionados ao tema do post;
- com propagandas (spam);
- com link para divulgar seu blog;
- com palavrões ou ofensas a pessoas e marcas;
- indesejáveis